.Foi-se o tempo em que o principal atrativo de um desodorante era proteger contra odores: hoje promessas vão de diminuir pelos a clarear axilas.
Não é à toa que as prateleiras dos supermercados brasileiros são fartas de desodorantes com as mais diferentes propostas. Segundo o Euromonitor, instituto internacional que audita o mercado de higiene pessoal em mais de 120 países, o Brasil é o maior consumidor de desodorantes do mundo.
Com o avanço tecnológico que a indústria do setor sofreu nos últimos anos, o básico ficou para trás: agora proteger contra a transpiração e o mau odor não são mais os principais atrativos destes produtos. As novas fórmulas aparecem sofisticadas, com promessas de garantir diferentes benefícios aos consumidores, como, por exemplo, prevenir o escurecimento da axila e auxiliar na redução dos pelos da região. Além disso, a maioria dos fabricantes já promete proteção antitranspirante por até 24h. E não é só. Tem até uma marca que assegura mudar a fragrância ao longo do dia, a fim de renovar a sensação de frescor.
Diante deste repertório de benefícios, é natural que o consumidor questione se os produtos realmente cumprem o que anunciam. Os dermatologistas dizem que a eficácia dessas promessas vai depender dos ativos utilizados na fórmula e da capacidade de agirem por meio de um veículo tópico.Se muitos dermatologistas duvidam ou relativizam os poderes da nova safra de desodorantes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) garante que se o produto é aprovado, ou seja, tem registro na Anvisa, significa que ele cumpre o que propõe no rótulo.
Veja as conclusões sobre a redução de pelos, o clareamento das axilas, a proteção 24 horas, a mudança de fragrância ao longo do dia e a proteção para peles sensíveis:
Redução de pelos
Entre os benefícios mais polêmicos provocados por um simples desodorante está a promessa de redução de pelos da região da axila. Um dos fabricantes afirma que entre os ingredientes da fórmula está o Pro Epil Complex, um ativo que além de reduzir os pelos, torna-os mais finos. “De fato, o Pro Epil atrasa o crescimento celular do folículo piloso, retardando o nascimento do pelo”, justifica o dermatologista João Carlos Lopes Simão, coordenador do ambulatório de Cosmiatria do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto (SP). “Os desodorantes podem conter ativos pilo-inibidores que agem no bulbo piloso reduzindo a sua atividade. Assim, o pelo demora mais para crescer”, reafirma o químico Angel Lizárraga, diretor executivo da Associação Brasileira de Cosmetologia. No entanto, há controvérsias. “Acho muito difícil, por exemplo, um desodorante diminuir os pelos no local da aplicação. Não há comprovações científicas de se alcançar esse efeito através de um cosmético”, diz a dermatologista Maria Fernanda Gavazzoni, chefe do ambulatório de dermatologia do Instituto Professor Azulay, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Outra marca não propõe redução dos pelos, mas promete uma depilação mais suave e rente, por conta de uma hidratação profunda da área, garantida por substâncias emolientes, entre elas o extrato de abacate. “Uma pele lisinha e bem hidratada facilita o deslizamento da lâmina e o processo de depilação, o que torna mais eficiente a retirada dos pelos e ainda assegura menos irritação superficial”, diz a mestre em dermatologia Solange Pistori Teixeira, colaboradora do Setor de Cosmiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Axilas mais claras
No que diz respeito às manchas escuras nas axilas, a promessa dos fabricantes é prevenir o problema. De acordo com as marcas que disponibilizam produtos nesta categoria, os ativos para prevenção são substâncias calmantes e suavizantes porque evitam irritações que com o tempo provocam hiperpigmentação, escurecendo a área. Uma marca argumenta que em sua fórmula contém extrato natural de pérolas, ingrediente que proporciona hidratação, uniformizando o tom da pele. “De fato o extrato de pérolas, naturalmente, é uma substância que produz luminosidade, que reflete a luz. E com isso pode camuflar a pigmentação local. Mas não tem ação clareadora”, esclarece a dermatologista Solange Teixeira. Outro fabricante, que também propõe a prevenção de manchas escuras na área, revela que sua fórmula contém óleo de girassol, de efeito hidratante, e ácido linoleico, ingrediente essencial para prevenir o escurecimento da cútis. “Essas substâncias têm esse efeito, de hidratar e clarear, mas na formulação de um desodorante essa ação é muito leve, com um resultado extremamente sutil”, salienta a dermatologista da Unifesp.
Fragrância em transformação
Uma das marcas disponíveis no mercado apelou para um recurso de fragrância e inovou com a promessa de mudar gradualmente o cheiro ao longo do dia. De acordo com o fabricante, a alquimia é garantida pela mistura de diversas notas olfativas que têm tempo de evaporação diferente, e assim permite que o aroma se transforme com a passar das horas. “Isso é possível, basta optar por perfumes que tenham tempo de volatilidade diferente, assim eles emanam o cheiro em intervalos de tempo diferentes e permitem essa mudança ao longo do dia”, esclarece o dermatologista João Carlos, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Alta proteção
O fato de garantir proteção 24h contra o suor excessivo vai depender de alguns fatores. “Com uma combinação de substâncias antitranspirantes é possível promover uma proteção mais duradoura. No entanto, o tempo que a pessoa vai ficar sem suar é relativo e difícil de estimar, por conta das características individuais de cada um”, argumenta a dermatologista Renata Ferreira Magalhães, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Para conseguir um nível potente de proteção, a fórmula do desodorante deve possuir altas concentrações de ingredientes antiperspirantes, como alguns derivados de alumínio. Porém, essas substâncias, por serem irritantes, precisam ser muito bem controladas”, alerta João Carlos, da USP de Ribeirão Preto.
Sensibilidade protegida
Apresentar uma formulação mais leve, que possa ser aplicada em peles sensíveis, não é algo tão novo assim, inclusive, é anterior a todo esse avanço da tecnologia que envolve o desenvolvimento desses produtos. Mas é sempre bom lembrar que o principal nessa categoria de desodorantes é conter ingredientes suaves. “As peles sensíveis normalmente apresentam vermelhidão, descamação, queimação ou prurido com o uso de produtos tópicos. Por isso, os produtos próprios para esse tipo de pele não podem ter perfume ou conservantes alergênicos. O ideal é conter antiinflamatórios como calêndula e camomila”, ressalta a dermatologista Renata Magalhães, da Unicamp. “A fórmula desses produtos tem que prevenir irritações. E não deve conter etanol, um tipo de álcool que desidrata e agride a pele. É bom conferir também se há agentes emolientes como óleos vegetais, ceras e lanolina, que hidratam a pele e reduzem a sensação de aspereza e ressecamento local”, alerta Maria Fernanda Gavazzoni.
Ação bactericida
No processo de transpiração, o mau odor acontece quando as bactérias agem degradando o líquido do suor. Por isso é tão importante a presença de agentes bactericidas na fórmula. Para turbinar esse efeito em uma de suas linhas masculinas, uma marca revela que incluiu na fórmula o íon de prata, sob o argumento de proporcionar proteção antibacteriana. “Essa substância de fato age contra as bactérias e por isso deve ter o efeito de amenizar o mau odor”, acredita a dermatologista Solange Teixeira, da Unifesp.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
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