quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Primavera chegou. É a estação de fazer neném!

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A primavera é a estação do ano mais propícia para a fertilização humana. Pelo menos para aquela que acontece no laboratório.

É o que sugere o primeiro estudo brasileiro sobre o impacto da sazonalidade na reprodução assistida, apresentado no congresso mundial de fertilidade, na Alemanha.

O assunto é controverso e ainda não há um consenso sobre os reais efeitos desse fator ambiental nas taxas de fertilidade humana -em outros mamíferos, como bois e macacos, a influência é mais conhecida e documentada.


A hipótese é que a fertilidade seja estimulada pela intensidade da luminosidade diária. Dias mais luminosos estariam associados a mudanças no cérebro responsáveis por mediar atividades endócrinas e reprodutivas.

No estudo brasileiro, foram avaliados ciclos de 1.932 mulheres que passaram pela fertilização in vitro em uma clínica de São Paulo, entre 2005 e 2009. Os ciclos foram agrupados de acordo com a estação do ano: 435 no inverno, 444 na primavera, 469 no verão e 584 no outono. Variáveis como idade, causa de infertilidade e qualidade do sêmen foram controladas.

Na primavera, a taxa de fertilização dos óvulos foi a mais alta (73,5%). No outono, no verão e no inverno, os percentuais foram de 69%, 68,7% e 67,9% respectivamente, segundo o estudo.

A resposta ovariana (número de óvulos produzido pela mulher após tomar as drogas hormonais) também foi melhor na primavera. Já a taxa de gravidez foi maior no verão (35,5% contra os 32,6% registrados na primavera).

MELATONINA

Segundo Edson Borges Júnior, um dos autores do trabalho e doutor em ginecologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), a gravidez depende de outros fatores que não apenas os ambientais, o que dificulta analisar a sazonalidade.

Já a fertilização dos óvulos teria grande influência ambiental, na sua avaliação. A explicação é que a luminosidade da primavera aumenta a atividade da melatonina (hormônio que regula o sono) que, por sua vez, afeta áreas do hipotálamo.

Isso levaria a uma maior secreção dos hormônios reprodutivos, como o FSH (hormônio estimulante folicular), o LH (hormônio luteinizante), que agem no ovário, o que melhora a resposta ao tratamento de fertilização.

O urologista Jorge Hallak, médico-assistente do Hospital das Clínicas da USP e um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre sêmen, diz que os gametas masculinos também têm qualidade superior na primavera.

Além da influência da melatonina, diz ele, isso se deve também à vitamina D, que é estimulada pela exposição ao sol. "É na mudança do inverno para a primavera que isso é mais percebido."

O próximo passo, explica Borges Júnior, será estudar diferentes regiões brasileiras e avaliar se a latitude influi nas taxas de fertilização. "Isso poderá ajudar na elaboração de novos protocolos de tratamento, levando em consideração a influência de efeitos sazonais no sistema endócrino-reprodutivo."

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