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PORQUE DILMA ROUSSEFF?
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, tem sua história contada em "Vultos da República", lançamento da Companhia das Letras. O livro, que reúne os melhores perfis políticos publicados pela revista "Piauí", conta como, ao conhecer Lula em 2001, Dilma impressionou o presidente com seu laptop.
O texto sobre a ex-ministra das Minas e Energia e da Casa Civil, escrito originalmente em julho de 2009 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho, ocupa 48 páginas da obra de 296 páginas. Para compor o perfil sobre Dilma, Carvalho informa ter entrevistado 70 fontes em quatro meses de apuração. A obra traz ainda episódios das biografias de José Serra, Marina Silva, Fernando Henrique Cardoso, José Dirceu, entre outros nomes.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva contou a "piauí", em uma entrevista no fim de 2008, como conheceu Dilma Rousseff.
"Eu sabia que ela era secretária do Olívio Dutra, mas não tinha muito contato, até porque ela era do PDT. Quem cuidava do meu grupo de energia era o Pinguelli Rosa. Então, a gente tinha, a cada ano, três, quatro reuniões com vários engenheiros do setor energético. Já próximo de 2002, aparece por lá uma companheira com um computadorzinho na mão. Começamos a discutir e percebi que ela tinha um diferencial dos demais que estavam ali porque ela vinha com a praticidade do exercício da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Aí eu fiquei pensando: acho que já encontrei a minha ministra aqui. Ela se sobressaiu em uma reunião com quinze pessoas. Pela objetividade e pelo alto grau de conhecimento do setor. Foi assim que ela apareceu no meu governo."
As reuniões com Lula ocorriam no Instituto Cidadania, em São Paulo, que ele montou para fazer as vezes de governo paralelo. O físico e engenheiro nuclear Luiz Pinguelli Rosa era a estrela maior, seguido de Ildo Sauer. A missão deles era elaborar a plataforma da área de energia para a campanha presidencial. Em junho de 2001, Pinguelli convidou Dilma a participar. "Ela era uma menina tímida no meio de grandes professores", disse Ildo Sauer. "Mas toda hora ela puxava aquele computador, que parecia ter tudo, até análise sobre o aço da palheta da turbina." Algumas vezes Dilma levou, como convidado, o engenheiro Luiz Oscar Becker, seu subordinado na secretaria gaúcha. Já separada de Araújo, Dilma e Becker eram namorados. (A ministra não quis comentar sua ligação com Becker).
Olívio Dutra disse que, "depois da eleição, o Lula me consultou. Eu falei para ela: 'Olha, Dilma, o Lula vai te convocar para a transição na área de Minas e Energia e te digo que tem mais coisas para tu assumir'". O que o Lula viu nela?, perguntei, e Olívio respondeu: "Um certo comedimento, o fato de ela ter uma visão articulada da área, uma discrição, uma modéstia sem falsidade. Ela com o laptop dela. Está tudo organizado ali. Tem números, elementos, quadros. Ela é sempre afirmativa. Posso ter pesado um pouco na balança naquele momento, mas, da transição para a frente, o mérito é todo da Dilma".
Ela contava com o apoio de dois pilares do governo: Antonio Palocci, da Fazenda, e José Dirceu, da Casa Civil. Mas o escândalo do mensalão provocou a queda de José Dirceu. E o caseiro Francenildo dos Santos Costa teve o seu sigilo bancário violado e Palocci saiu do governo. Com o debacle dos dois, em vez de perder poder, Dilma ficou mais forte: Lula a nomeou chefe da Casa Civil.
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, que trabalha no mesmo andar de Gilberto Carvalho, é um dos três ex-guerrilheiros do primeiro escalão, junto com Carlos Minc, do Meio Ambiente, e Dilma Rousseff. Brinquei com Martins dizendo que o governo Lula era o que tinha o maior número de ex-guerrilheiros no mundo. "Um dos maiores", ele devolveu, sorrindo. Por que Lula escolheu Dilma para a Casa Civil? "Naquele momento, ela tinha conquistado uma confiança muito grande do presidente", respondeu Martins. "O Ministério das Minas e Energia não era periférico. Lula sabia que outro apagão seria desastroso. E ela executava, trazia resultados. Lula percebeu que ela fazia as coisas andarem."
Quando começaram a circular no governo rumores de que a Petrobras havia descoberto enormes depósitos de óleo no fundo do mar, Clara Ant, assessora especial do presidente, cruzou com a chefe da Casa Civil num corredor do Planalto e lhe disse, entusiasmada: "Dilma, você é o nosso pré-sal!". A ministra não entendeu a brincadeira. Clara Ant queria dizer que, pela sua avaliação do xadrez político, Dilma tinha condições de ser uma peça no jogo sucessório, talvez a rainha. A ministra era uma descoberta inesperada e com enorme potencial futuro - um pré-sal político.
Os nomes de que Lula dispunha para jogar no tabuleiro sucessório cabiam nos dedos da sua mão. Todos eram ministros e do PT: Marta Suplicy, do Turismo, Tarso Gento, da Justiça, Fernando Haddad, da Educação, e Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social. Cada qual tinha sua cota de virtudes e problemas. Marta é mulher e é conhecida nacionalmente, mas foi derrotada por José Serra na eleição para a prefeitura de São Paulo. Tarso foi responsável pela implantação de um dos programas vitoriosos do governo, o ProUni, e assumiu a presidência do PT e pacificou o partido num momento de grande perigo, a crise do mensalão. Mas está à esquerda de Lula e lidera uma das tendências minoritárias do PT. Haddad é jovem, operoso e não tem imagem de político. Mas nunca disputou eleição, não tem trânsito junto ao empresariado nem proximidade com o presidente, além de não dispor de apoio na base principal do PT, São Paulo. Patruz Ananias é sério, mas seu trabalho no governo não deslanchou e é desconhecido fora de Minas Gerais.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
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