sábado, 18 de setembro de 2010
Com descoberta do pré-sal, Brasil é ameaçado pela “síndrome holandesa”
O aumento de capital em dezenas de bilhões de dólares anunciado pela Petrobras levará a uma afluência de liquidezes estrangeiras ao Brasil. Esse movimento poderá fazer o real disparar, e estrangular a indústria nacional. O Brasil deveria se inspirar no rigor de gestão em vigor no Chile e na Noruega.
Pois a experiência mostra que a abundância de recursos naturais atrai para eles os capitais a ponto de privar os outros setores da economia, comprometendo assim a industrialização. É o que se chama de “síndrome holandesa”: nos anos 1970, a dádiva recebida pela Holanda após a descoberta de enormes jazidas de gás provocou a asfixia do setor manufatureiro.
Os dirigentes de nações dotadas de riquezas naturais também têm tendência a aumentar os gastos públicos, o que desperta a inflação e torna a saúde da economia dependente das flutuações dos preços das matérias-primas.
Cientes do risco
Ora, o Brasil está vulnerável. Suas gigantescas reservas de petróleo localizadas em alto-mar deverão fazer do país um dos dez maiores produtores mundiais.
A Petrobras, grupo de energia controlado pelo Estado, espera dobrar sua produção levando-a a 5,4 bilhões de barris por dia até 2020. Na cotação atual, isso representa uma receita extra de US$ 80 bilhões (R$ 137 bilhões), o equivalente a metade das exportações de 2009. E esses números não levam em conta aquilo que é produzido por outras grandes companhias ou pela nova OGX.
Isso poderá desencadear uma disparada do real – ele já se valorizou 40% frente ao dólar desde o fim da crise financeira – e coloca em risco os progressos do Brasil em outras áreas. Dessa forma, o país conseguiu para si fatias de mercado mundiais de 1% no setor automobilístico, e 3% na aviação.
Os dirigentes brasileiros estão cientes do risco. Fala-se em guardar as receitas do petróleo em um fundo social, investindo-as em ativos estrangeiros. O procedimento permitiria reduzir o impacto do afluxo de divisas e acalmar o possível apetite por gastos do governo. Entretanto, deve-se observar que mesmo nos países que implantaram esse tipo de mecanismo – o Chile e a Noruega entre eles, a vontade de tirar do caixa se mostra insistente.
A economia brasileira vem sendo bem administrada há dez anos, mas antes disso, o país tinha o costume de ver os governos cederem às reivindicações populistas. É pelo uso que o Brasil fará de seu tesouro petrolífero – “uma dádiva de Deus”, segundo os termos de seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva – , que sua maturidade política poderá ser julgada.
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