sábado, 27 de novembro de 2010
Mauricio de Sousa
A vantagem de trabalhar com criação é que não há becos sem saída. Há sempre uma alternativa, como no mundo dos quadrinhos. Às vezes, preciso vestir o uniforme de empresário e fingir que estou bravo. Que meus diretores não me ouçam, mas é puro teatro. Trabalho todo o tempo em que estou acordado. Mas isso não quer dizer que eu não me entregue aos meus dez filhos, à minha família. Alguns trabalham comigo. Também consegui colocar toda a filharada morando perto do escritório, porque assim posso visitá-los durante o dia, dar carinho e socorro.
Tenho três secretárias. Uma delas varre meu computador pela manhã para jogar os “spams” fora e me avisar das coisas mais urgentes. Sobram cerca de 300 e-mails para eu ler por dia. A outra secretária recebe os roteiros e a terceira cuida da parte de vídeo e atendimentos internacionais. Tenho reuniões rápidas quase diárias com os diretores da empresa. Desses encontros, às vezes sai alguém mal informado. Por isso, a minha porta está sempre aberta.
Tudo que fazemos na empresa passa pela minha mão na hora da criação. Tem que passar. Hoje, isso é relativamente fácil, porque assimilei bem as novas tecnologias. Amo o laptop, o e-mail, o satélite. Essas coisas me permitem acompanhar a criação em qualquer lugar do mundo.
Estou cercado de jovens, ouvindo a música da hora, para não ficar desatualizado. A minha preocupação é estar ligado na língua e no som do momento para que a Turma da Mônica não envelheça. Hoje (quarta-feira 15) vou ao show do Oasis.
Estamos em um processo de sucessão na empresa. Estou me encaminhando para sentar na ponta da mesa e delegar tarefas. Vou ficar na criação e na parte política. Em seguida, voltarei a desenhar tiras de jornal. Não consigo mais desenhar tanto quanto gostaria. Às vezes, preciso escrever e desenhar uma história da Mônica, do Chico Bento, para os roteiristas retomarem a linha.
Na empresa, ando o dia inteiro, subo e desço escadas. Me trato com a medicina ortomolecular há 20 anos. Desde então, me sinto mais jovem do que nunca. A minha arma principal para manter o ritmo é a memória. Tenho de me lembrar das histórias que já foram publicadas para não repeti-las, de estar atento para falar com cada diretor sobre seis assuntos diferentes e saber em que pé está a coisa. As pílulas me ajudam nisso. Preciso me cuidar, porque gosto do que faço e quero continuar fazendo por muito tempo.
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