terça-feira, 20 de abril de 2010

Brasília 50 anos: Escândalos, Violência, Corrupção, Desigualdade e Podridão

Gangues e brigas ainda rondam a juventude do DF

“Ser jovem no Plano Piloto é muito fácil. Tem muita segurança e qualidade de vida”, define Felipe Scarano Gomes Coelho, 24, morador da Asa Norte e pertencente a uma dinastia de funcionários públicos. “A diversão em Ceilândia não é boa. Só vou lá para dormir”, conta Thiago Santos de Almeida, 22, que trabalha como produtor de festas.

Os dois representam as duas pontas da cidade que está na quarta posição no ranking da desigualdade social do país, atrás só de Goiânia, Belo Horizonte e Fortaleza. Em Brasília, se fala em um muro invisível que separa o urbanismo planejado e os povoamentos desorganizados. De um lado, a cidade-maquete-autorama projetada por Lúcio Costa. Do outro, repete-se o mesmo subúrbio que se vê em todo Brasil. De um lado, os netos dos que vieram ocupar cargos. Do outro, os descendentes dos que vieram erguer a cidade.

“O pessoal é receptivo de dia, mas à noite fica muito marrento. A pancada come, e tem muita gente achando que é o dono do pedaço. Eu mesmo já briguei demais. Já fui muito bobo, mas isso quando tinha 18 anos. Desde que um amigo morreu brigando, entrei na turma do `deixa disso´. Só se aprende apanhando”, conta Felipe.

Seu avô paterno foi assessor no TST (Tribunal Superior do Trabalho). O avô materno era presidente do BNH (o extinto Banco Nacional da Habitação). O pai é funcionário de confiança no Banco do Brasil, a mãe trabalha no Poupex (associação de consórcio e poupança do Exército), onde ele arrumou emprego também.

“O que tem muito aqui é a `galera agulha´, o povo que toma anabolizante para ficar musculosão. A testosterona sobe para a cabeça e acaba em briga. Nas cidades-satélites, não existe isso porque muita gente está armada. Eu vou em roda de chopp do Núcleo Bandeirantes, mas lá é tranquilão”, relata Felipe.

Já Thiago sabe onde está pisando quando entra em festa da “playboyzada”. “Não vejo segregação. Os boys nos tratam de igual para igual. Nego tem que saber com quem mexe. A briga é entre eles”, opina sobre as festas que promove nas asas.

Uma vez por mês, Felipe se arrisca no wakeboard no lago de Paranoá, mas ele só pratica o esqui puxado por lancha quando algum amigo convida, afinal, não conta com os equipamentos. “É mais comum no fim-de-semana a gente fazer um churrasco.”

Felipe acredita que os jovens das superquadras se comunicam por marcas e grifes, incluindo ele mesmo. “Tenho um Audi, mas é pelo conforto e pela potência. Mas o pessoal aqui só vive no status. Se não for de marca, você não é ninguém. A gente fala aqui que a pessoa `mora no carro´, porque o veículo é mais caro que a casa em que moram”, afirma.

Felipe morou a vida toda entre as superquadras 313 e 314 na Asa Norte, mas por vezes não conhece o vizinho que sempre vê. “O brasiliense é mais fechado, não é aconchegante como o mineiro, por exemplo. Mas a hierarquia só transparece na vida social quando um garoto diz : `você sabe com quem está falando? Sabe de quem eu sou filho?´. Os policiais têm medo de multar porque pode ser filho de figurão”, relata o garoto.

Essa realidade é distante para Thiago. Ele aprendeu a gostar de rap escutando a mãe baiana limpando a casa ouvindo um fita cassete dos Racionais Mcs. Hoje, a música é sua vida. É DJ do gênero. As festas são seu trabalho e diversão. “Pena que as melhores estão só no Plano Piloto. Antes tinha nas cidades-satélites aparelhagens que davam som de graça nos finais de semana, mas isso já acabou”, se lamenta.

Também é passado outro costume dos jovens brasilienses: o luau com violão e vinho barato na frente do Congresso Nacional. Hoje, a área é vigiada. A manifestação juvenil mais visível na Esplanada dos Ministérios são os skatistas aproveitando o concreto deixado por Oscar Niemeyer para deslizar por rampas, bancos e desníveis.

Na frente do intergaláctico Museu Nacional de Brasília, um grupo deles faz manobras sob o olhar dos seguranças. “Eles ficam xaropando a gente para não subir a rampa do museu. Eu desci uma vez. Foi animal”, conta Lucas Ferreira, 17, em meio ao grupo de amigos.

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