segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tenho medo da Polícia



População de BH e do
Brasil tem medo da polícia


Quem vive no interior de Minas está mais satisfeito com a polícia do que quem mora em Belo Horizonte. Estudo inédito da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) sobre a percepção de pessoas atendidas pelas polícias Militar e Civil nos últimos cinco anos mostra que 48,5% dos entrevistados na capital não confiam na polícia e 60% têm medo das corporações. No interior, o cenário é diferente: 49% das pessoas ouvidas confiam e 45,3% têm medo. A pesquisa ouviu 1.890 cidadãos vítimas de crimes em 14 cidades diferentes e foi obtida com exclusividade pelo Estado de Minas.

Tanto no interior quanto na capital, a maioria dos entrevistados considera suas cidades mais calmas do que violentas (79,8% no interior e 82,3% em BH). Mas, em Minas, 79,1% das pessoas dizem acreditar que a violência em sua cidade aumentou nos últimos anos. Realizado para conhecer melhor como se dá o atendimento policial e detectar possíveis problemas, o estudo servirá para tentar melhorar a qualidade da prestação de serviços policiais à sociedade e a imagem das corporações, segundo a Seds. Com a pesquisa, foi possível chegar ao Indicador Geral de Satisfação nas oito macrorregiões de Minas: a Região de Lavras e Pouso Alegre, no Sul do estado, alcançou o melhor índice; Patos de Minas, no Alto Paranaíba, o pior.

Os valores foram obtidos levando-se em consideração seis aspectos do contato entre polícia e vítimas de crimes. Os que apresentaram melhores pontuações, em geral, foram facilidade de acesso à polícia, cordialidade, capacidade de comunicação e competência. Credibilidade e interesse policial em resolver os problemas tiveram notas mais baixas. Os dados foram coletados nos dois últimos meses de 2007 e o estudo ficou pronto em março deste ano. O resultado foi apresentado a representantes das polícias, Seds e Advocacia-geral do Estado durante reunião do Colegiado do Sistema de Defesa Social.

“É uma pesquisa muito nova, por aqui nunca tinha sido feito nada nesse sentido. O resultado será focado para a frente. No futuro, será possível monitorar a evolução dos índices em todas as regiões”, afirma o sociólogo Bráulio Alves da Silva, um dos coordenadores do estudo, para quem “os resultados são bons e os níveis de satisfação estão acima da média”. Pesquisador do Centro de Estados de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, ele diz que a diferença entre capital e interior em relação à percepção da confiança e o medo da polícia pode ser explicada pelas características do trabalho em cada região.

“No interior há um grau de coesão maior, as pessoas conhecem os policiais pelo nome. Por isso, é esperado que confiem mais neles. Belo Horizonte é uma metrópole, as pessoas se conhecem pouco. Mesmo que tenha policiais no seu bairro, nem sempre você os conhece”, afirma. O segurança de lanchonete, D.A.M., de 43 anos, concorda. Ele lembra que os policiais mais honestos que já conheceu são de sua terra natal, Muzambinho, na Região Sul de Minas. Mas a relação que mantém com os policiais que atuam no Centro de BH o deixa desacreditado em relação às corporações. “Se ocorrer um assalto e eu ligar para o 190, demorarei 30 minutos para ser atendido. Tenho o telefone celular de duas viaturas que a gente escolhe e tem de servir cafezinho e lanche só para os policiais aparecerem e fazerem uma ronda. Na hora da necessidade, são eles que nos atendem, em dez minutos estão na porta”, conta o segurança, que pediu para não ser identificado. D.A.M. diz ter medo da polícia. “A violência com que eles tratam algumas pessoas aqui na porta não nos deixa tranqüilos”, afirma.

No estudo da Seds, 441 dos 1879 entrevistados, quase um quarto do total (23,5%), disseram que eles mesmos ou algum outro morador da sua residência já foram “vítimas de alguma violência por parte da polícia sem que tenha dado motivos para isso”. A maioria das pessoas ouvidas (73,5%) disse que considera o tratamento às pessoas ricas melhor que o tratamento dispensado aos pobres e 56,7% afirmaram que brancos recebem tratamento diferenciado e melhor. Para 64,1% dos entrevistados, os policiais são mais atenciosos com os idosos.

O sociólogo Bráulio Silva acredita que o trabalho servirá como base para as corporações melhorarem a imagem de segurança e confiabilidade. Para ele, serviços como o Disque-Denúncia “têm grande credibilidade” junto à população, o que favorece a criação de laços mais ternos entre cidadãos e polícias. Por meio da assessoria de comunicação, o secretário Maurício Campos Jr. informou que não comentaria a pesquisa, por considerá-la estratégica e de interesse restrito à Seds.

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